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A propagação das Fake News além do 1º de abril

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A data, conhecida como Dia da Mentira, já não é mais famosa pelas pegadinhas em tom jocoso. O 1º de abril é conhecido internacionalmente como o dia da mentira. Uma data em que, usualmente, as pessoas faziam brincadeiras e pregavam peças em seus colegas de trabalho, nos amigos e em pessoas da família. Na história mais recente, empresas aderiram à brincadeira e, neste dia, jornais e assessorias costumavam publicar notícias irreais, empresas anunciavam lançamentos de produtos inimagináveis, dentre outras ações incoerentes, sempre com o intuito de brincar com o público em geral devido ao significado da data.

Para o coordenador da Comissão de Confiabilidade Informacional e Combate à Desinformação no Ambiente Digital da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), José Claudio Matos, o Dia da Mentira servia para revelar que a mentira era mentira.

"Era um dia da verdade também, ao final das contas. Porque a graça de brincar no 1° de abril não estava em mentir, mas sim em surpreender a pessoa enganada dizendo "Primeiro de Abril!!!". E aí todos podiam desfrutar humoristicamente da farsa. Mentir a sério é outra coisa. O mentiroso, o enganador sério, não quer revelar sua farsa, quer que o maior número de pessoas acreditem nela, pelo maior tempo possível", analisa.

Matos, que também é professor do Departamento de Biblioteconomia da Udesc, acredita que a data "perdeu toda a graça" nos últimos anos, por dois motivos: a evolução ética da sociedade e o fato de que a propagação de desinformação não é mais um fenômeno extraordinário e incomum.

Para ele, a evolução ética da sociedade, as brincadeiras que envolviam submeter alguém a uma situação de equívoco, acabaram por se tornarem atitudes de mau gosto. "As piadas que se contava na década de 1980, por exemplo, perderam a graça porque revelou-se toda a discriminação e desrespeito que elas continham. Brincadeiras de 1º de abril foram junto nessa onda de renovação do comportamento socialmente aceitável."

Além disso, o professor analisa que, especialmente nos últimos anos, a propagação de mentiras e desinformações deixaram de ser fenômenos raros. "Essas coisas estão à nossa volta o tempo todo, como um perigo do ambiente digital permanente e real. Gostaria que o 1º de abril se tornasse um dia de reflexão, de educação e de combate a todas as atitudes de desinformação. Por exemplo, todo mundo pode ser mais rigoroso, mais cuidadoso com as coisas que compartilha e que comenta na internet. Não compartilhar uma informação sem verificar se é verdadeira, não entrar em discussões sem conhecer os dois lados do assunto, são formas de combater a desinformação", completa.

Fake news: quem caiu, caiu em 1º de abril?

Mas o que é o 1º de abril ante a propagação imensurável das fake news que têm sido publicadas na atualidade? Hoje em dia não é mais preciso esperar o início de abril para cair em uma pegadinha ou receber uma notícia falsa. Diariamente, recebemos, por diversos meios, uma enxurrada de 'mentirinhas', e as notícias sem fundamento acabam por deixar muita gente em polvorosa.

Uma fake news, ao contrário das pegadinhas do Dia da Mentira, tem intuito de manipular, enganar, enviesar e tirar as informações de contexto, propagando uma rede interminável de desinformação.

"Um dos impactos mais evidentes é a perda de vidas humanas. A pandemia da Covid-19, por exemplo, foi marcada por uma série de posturas baseadas em fake news, como a postura do tratamento precoce, a de que era apenas uma forma de gripe, até a de que a Covid-19 não existia. Muitas pessoas leram fake news em seus celulares, seguindo perfis em redes socais que espalham desinformação, e acreditaram que não era preciso se vacinar, nem passar álcool, nem usar máscara. E claro, pessoas morreram ou fizeram outras morrer por causa disso", explica Matos.

O jornalista e professor de jornalismo da Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Luiz Henrique Zart, também é um estudioso do tema. Para ele, a desinformação tem impactos claros e evidentes no cotidiano.

"Não precisamos de mais exemplos do que aqueles que se apresentam na realidade, em especial nos últimos anos. No entanto, essa prática não é nova. O que muda, em tempos recentes, é a forma e a dinâmica com que isso é feito. Com a verticalização do debate público que foi trazida pela internet, as colocações de um especialista têm o mesmo peso que a opinião sem fundamento de um teórico da conspiração com um canal de grande alcance", alerta.

Zart destaca que o ambiente digital propiciou uma das principais características dos conteúdos enganosos: a propagação acelerada. Ele explica que, com a cultura do compartilhamento, a tendência é que a informação não seja checada e as pessoas não tenham embasamento sobre o que é factual, mas ajam pela emoção, seja ela o ódio, a repulsa, ou a incredulidade, dentre tantas outras.

O jornalista classifica o atual momento como um cenário que pode ser caracterizado como uma "desinfodemia", ou seja, uma epidemia de desinformação. "Em resumo, há muito conteúdo disponível, desde aquele qualificado, que segue parâmetros técnicos rigorosos, como é o caso do bom jornalismo, até o que se ampara única e simplesmente em posições ideológicas - em grande parte distorcidas e descontextualizadas - de seus autores, tudo isso num mesmo balaio. Essa mistura dificulta que consigamos fazer uma distinção do que é verdadeiro e do que é mentiroso", completa.(Núbia Garcia | Agência Adjori SC de Jornalismo)



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